Ao falar sobre meio-ambiente e prevenção ao suicídio, André Trigueiro expõe uma nova forma do olhar jornalístico

O convidado da noite de domingo do Livro Livre tem um currículo extenso, porém, seu nome, ao ser anunciado, já remete ao público boa parte de sua trajetória. Jornalista por formação, André Trigueiro é pós-graduado em Gestão Ambiental pela COPPE/UFRJ onde leciona a disciplina ‘Geopolítica Ambiental’, professor e criador do curso de Jornalismo Ambiental da PUC-Rio e autor de vários livros, entre eles a ‘Força do Um”, ‘Viver é a melhor opção: a prevenção do suicídio no Brasil e no mundo’ e ‘Cidades e Soluções: como construir uma sociedade sustentável’. A noite de domingo foi um reencontro, já que o escritor esteve presencialmente na Feira do Livro de Santa Maria em 2015.

Livro Livre André Trigueiro - Foto: Ronald Mendes
Livro Livre, André Trigueiro – Foto: Ronald Mendes

Esse encontro, em novo formato, foi a primeira questão tratada por Trigueiro em resposta às mediadoras da noite, as jornalistas Liciane Brun e Pâmela Matge. O aspecto online já está incorporado no cotidiano do escritor, que vê com bons olhos a comunicação por diversos meios. “Na área da informação é importante que tenhamos esse conceito de multiplataforma bem compreendido. A pandemia trouxe a intensificação de possibilidades e realizações de trabalhos, na resolução virtual. E mesmo após a pandemia, vamos manter algumas práticas que aproximam as pessoas de uma forma interessante”, acredita.

Seu cotidiano virtual, ao qual se refere, é o “Papo das 9”, onde, desde o início da pandemia, o jornalista transmite lives diárias em suas redes sociais com conversas e momentos de sabedoria como forma de “reforçar o estoque de coragem e esperança no futuro”, em suas palavras. Essa troca surgiu de um projeto intuitivo com o objetivo de ocupar um espaço em um Brasil que se encontra em momento de vulnerabilidade social. “A pandemia trouxe preocupação para mim, que já estudo há mais de 20 anos na área da saúde mental. Fiquei preocupado com pessoas que poderiam ter episódios de fragilidade psíquica ou mental mais a flor da pele”, explica.

Como jornalista, comemorou ver colegas de profissão agraciados com o Prêmio Nobel da Paz de 2021. Maria Ressa e Dmitry Muratov foram premiados pela luta corajosa e seus esforços em defesa da liberdade de expressão. “O comitê Nobel reconheceu a gravidade da indústria da fake news, que subverte as notícias à condição de fatos inexistentes, deturpação da informação e a descoberta da indústria da fake news como projeto de poder em alguns países. É um problema que determina enormes estragos à democracia e abre caminhos para governantes inescrupulosos que a qualquer custo tentam construir uma narrativa para pavimentar o caminho para uma vitória política”, destacou.

Ainda sobre o tema fake news, esclareceu a diferença entre o termo e notícias falsas. Segundo o convidado, fake news se trata de deliberadamente disseminar, utilizando as redes sociais, mentiras com interesses políticos. Já notícias falsas correspondem a erros cometidos por profissionais da imprensa por não terem conduzido uma checagem aprofundada dos fatos e fontes. “O jornalismo no século XXI passa a ser uma espécie de curadoria de notícias que têm checagem feita e merecem ser chamadas de fatos”, acrescenta.

Questionado quanto ao limite de liberdade de expressão e ofensas nas redes sociais, afirmou que a liberdade de expressão, por lei, no Brasil, não permite o racismo, por exemplo. “A gente precisa entender que somos a comunidade dos diferentes. No mundo inteiro nós vamos ter na pluralidade e diversidade um trunfo da nossa espécie. Quem não está se sentindo bem, vivendo em um mundo diverso, não pode ditar as regras e se refestelar no seu preconceito e na sua forma tóxica de existir, destilando ódio e preconceito, querendo que os outros entendam o seu direito de pensar”, expõe.

Livro Livre André Trigueiro - Foto: Ronald Mendes
Livro Livre, André Trigueiro – Imagem: Reprodução/YouTube

O jornalista, que também estuda, pesquisa e escreve sobre prevenção ao suicídio, orientou a respeito do papel da imprensa perante essa realidade. Ele afirma que é preciso comunicar utilizando as ferramentas corretas, sendo debatido com informação, já que ela é aliada da saúde pública. A relação dos temas suicídio e meio ambiente, seus temas de maior interesse, são vistos como convergentes, já que ambos tratam da valorização da vida. “O meio ambiente começa no meio da gente, o suicídio é um desastre ecológico. A gente precisa ter a noção de que a vida é sagrada, todos temos um propósito, um sentido para a existência. E certamente eles não são depredar e destruir a natureza ou destruir-se”, relembra sua posição manifestada no bate-papo da Feira de 2015.

Com o veto presidencial ao projeto de distribuição gratuita de absorventes íntimos no Brasil, uma fala de Trigueiro repercutiu nas mídias. “Não há absorvente que dê conta do sangramento moral deste governo. O ciclo de desumanidade parece inesgotável”, afirmou o jornalista durante a semana. “Precisamos virar esse jogo, rápido. Não é uma questão de ideologia ou política partidária. É uma questão de bom senso, razoabilidade, respeito à ciência e reconhecimento da importância da educação aberta e plural”, alerta.

O convidado do Livro Livre finalizou sua participação falando sobre os sentimentos, destacando que a tristeza faz parte da vida. A ajuda deve ser procurada quando a pessoa sente uma tristeza permanente, se manifestando na falta de ânimo, estresse e melancolia, concluiu o jornalista.

A Feira do Livro ocorre até 16 de outubro, com programação híbrida na Praça Saldanha Marinho, no Theatro Treze de Maio e nas redes sociais da Feira. Na noite de 11 de outubro o Livro Livre terá o bate-papo “O Restauro da presença e a consciência digital: a experiência do Ser no mundo através do corpo”, com Carolina Berger. O público poderá acompanhar pela transmissão nas redes sociais da Feira do Livro de Santa Maria e também no Theatro Treze de Maio.

 

Texto: Nathália Arantes – acadêmica de jornalismo da UFN

Jornalista responsável: Liciane Brun – MTB 16.246