Exposição com interação digital resgata trajetória de Joel Saldanha no cinema de animação

Quem acessou a Sala de Exposições Angelita Stefani, na Universidade Franciscana, no fim da tarde de sexta-feira (08), logo percebeu que ali se encontrava uma exposição que reunia materiais produzidos por uma mente extremamente criativa e cuidadosa com sua manufatura. Os cenários e criações presentes na mostra, muitos realizados há mais de 30 anos, traziam em si uma impecabilidade que nem o tempo foi capaz de depreciar. Com maquetes, equipamentos, filmes, bonecos articulados e outras idealizações, ‘Nos Animados Tempos de Joel Saldanha’ permite ao público conhecer os inventos daquele que se dedicou ao cinema de animação.

Exposição Joel Saldanha - Foto: Nathália Arantes
Exposição Joel Saldanha – Foto: Nathália Arantes

A abertura da mostra contou com a presença de familiares de Joel Romagueira Coimbra Saldanha (1936-2018). As filhas, Aline Berneira Saldanha e Sílvia Berneira Saldanha Klassmann, relembraram como foi a infância ao lado do pai e a importância do contato artístico logo ao início da vida. “Ele sempre foi um inventor. Durante toda a nossa infância tinha muita criatividade presente. Em todas as datas comemorativas ele fazia desenhos, brinquedos e embalagens para nós. O que ele não sabia ele criava uma forma de fazer”, relembra Aline. “Esse contato foi fundamental para o nosso crescimento e desenvolvimento como pessoas, com um olhar mais sensível para o mundo. O pai via essa beleza, a vida para ele era um filme”, acrescenta.

A importância de ter as produções documentadas e agraciadas, com a exposição para o encanto do público, também foi destacada por Sílvia. “Resgatar esse acervo e colocar em prática, mostrando tudo que ele fazia, é uma forma de preservar a memória de uma pessoa que viveu grande parte de sua vida em Santa Maria e que fez parte da UFSM e da cena audiovisual da cidade”, declara ao lembrar da decisão de doar as peças produzida por Saldanha ao acervo que leva o nome do artista.

Curadora da exposição, a jornalista Marilice Daronco, falou sobre seu primeiro contato com as criações do homenageado. “Os meus primeiros contatos com o seu Joel, foram por eu pesquisar sobre Super-8 em Santa Maria, na minha especialização em cinema na UFN. A única informação que eu tinha era que tinha sido um realizador de animações. Então fui procurá-lo para tentar ver esses filmes, que não existiam em nenhum lugar para que pudessem ser consultados, que eram particulares. Ao me receber em seu apartamento, começou a me mostrar caixas e caixas de desenhos e de filmes que ainda estavam em VHS”, relembra.
Em uma época em que o cinema com efeitos especiais não era produzido por programas de edição, Saldanha explorava sua mente criativa para suprir qualquer necessidade digital. “O feito dele, em ter conseguido realizar essas coisas, com a tecnologia que estava disponível, é incrível. Ele trabalhava na imaginação mesmo”, reconhece.

Exposição Joel Saldanha - Foto: Nathália Arantes
Exposição Joel Saldanha – Foto: Nathália Arantes

Denise Copetti, colaboradora da TV OVO, relembra o contato feito, no início de 2020, pelas filhas do artista, propondo a doação do acervo para a associação. “Quando abriu o edital de fomento para espaços culturais, pela Lei Aldir Blanc, surgiu a ideia de aproveitarmos essa oportunidade para organizarmos o material que recebemos, mas que ainda precisava ser catalogado. Assim pensamos em um projeto onde teriam vídeos falando sobre o acervo, a exposição e preservação contínua desse material”, explica.

 

Além de poder conferir de perto os trabalhos de Joel Saldanha, o público encontrará alguns materiais digitais, como áudios e QR Codes. Os organizadores sugerem que as pessoas levem seus celulares e fones de ouvido para desfrutarem plenamente das interações disponíveis.

As visitações vão de 8 a 29 de outubro. A exposição integra a programação da 48ª Feira do Livro de Santa Maria e a iniciativa faz parte do Projeto Acervo Joel Saldanha aprovado no edital de Fomento aos Espaços Culturais de Santa Maria, da Secretaria de Município de Cultura, através da Lei Aldir Blanc e conta com o apoio da Fundação Eny.

 

Texto: Nathália Arantes – acadêmica de jornalismo da UFN

Jornalista responsável: Liciane Brun – MTB 16.24