TODO DIA É DIA DE ÍNDIO

As vozes indígenas e os instrumentos, se uniram em um ritmo só, para abrir a programação cultural da tarde desta terça-feira, 30 de abril. A atividade reuniu as apresentações com a leitura inclusiva sobre a cultura indígena, com duas escolas de aldeias de Santa Maria. A EEEF Indígena Yvyara ‘ Ja Tenonde Vera Miri da aldeia Guarani e a EEEF Indígena Augusto Ope da Silva da aldeia Caingangue apresentaram números de dança e música na sua língua materna sobre a realidade na mata. “A gente canta os lamentos do nosso povo e da nossa mata”, explica o cacique Jonathan sobre os cantos entoados na praça.Eles tratam da escassez de frutas e alimentos e da relação das aldeias com a natureza.

A escola da aldeia Cainguangue cantou sobre a natureza, e sobre a importância dos rios para sua  sobrevivência. A comunidade também apresentou a dança do Guerreiro, que luta para a preservação do meio ambiente.

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A convidada para essa atividade especial, foi a escritora portuguesa Margarida Botelho, que escreveu um livro sobre a sua vivência na aldeia indígena dos Caiapós, durante um mês, no ano de 2012, em Altamira, no Pará. A escritora veio à Santa Maria compartilhar os conhecimentos adquiridos na aldeia, em forma de história. Em ua de suas obras, Yara é uma jovem índia, que mora em uma aldeia perto do rio Xingu, um afluente do rio Amazonas, que termina no estado do Pará. Yara acorda com os pássaros, colhe frutos, pesca e volta para a aldeia, trazendo o café da manhã. Depois, vai para o rio com os outros curumins (crianças indígenas), e brinca, se banha e aprende, pois essa é a escola da mata. E toda a mata também é pracinha, pois ela é livre. A noite, todos se preparam para a Festa da Lua Cheia, uma celebração que exalta a Deus que está em tudo na natureza. O livro também conta a história de Iara, uma menina da cidade, que tem uma rotina muito diferente de sua xará. Esta Iara, acorda, toma o café da manhã preparado pela mãe, que foi comprado no mercado, toma banho e vai para a escola, aprende sobre o rio e a floresta, mas não os conhece, brinca na pracinha, volta para casa e joga videogame. À noite, tem festa de aniversário, e se celebra a Iara. E apesar das diferenças de vivência, as duas personagens as encontram no meio do livro, para ensinar uma à outra.

Enquanto conta a história, Margarida, traz nas mãos, a boneca que ilustra a narração, pois a comunidade visitada por ela, hoje em dia, não existe mais, em razão da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, perto do município de Altamira.

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“Na aldeia, se valoriza o grupo, na cidade se valoriza a pessoa. Quando uma aldeia comemora, se comemora o coletivo, a comunidade. Na cidade quando festejamos, festejamos a nós mesmos, os indivíduos. Essa é a grande diferença entre nós, e com isso que temos que reaprender” acredita a autora.

“A gente não conhece muito esta cultura. Às vezes passa por algum índio no calçadão, dá uma moeda, mas não troca conhecimento, não pergunta, não troca uma ideia”, reflete a professora aposentada, Dalida Rosa de 62 anos. A professora, ressalta também que a fala da escritora deixa claro que a sociedade precisa interagir mais, como não se conhece, a riqueza que os outros são.

Texto elaborado pela acadêmica de Jornalismo da UFN Caroline Comassetto

Foto: Denzel Valiente/LABFEM-UFN

Professor responsável: Jornalista Bebeto Badke (MTb 5498)