Obra de Erico Verissimo ecoa e emociona com atuação de Rafa Sieg
“Desde que, adulto, comecei a escrever romances, tem-me animado até hoje a ideia de que o menos que um escritor pode fazer, numa época de atrocidades e injustiças como a nossa, é acender a sua lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão, propícia aos ladrões, aos assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do horror. Se não tivermos uma lâmpada elétrica, acendamos o nosso toco de vela ou, em último caso, risquemos fósforos repetidamente, como um sinal de que não desertamos nosso posto”. (Erico Verissimo, em Solo de Clarineta)

As palavras de Erico Verissimo, escritas há décadas, novo sentido na noite desta terça-feira (2). No Theatro Treze de Maio, leitores e curiosos — alguns ainda não iniciados na obra do escritor gaúcho — presenciaram trechos de Solo de Clarineta (1973) ganharem voz e corpo no monólogo Erico – Um Solo de Clarineta (Primeiro Movimento), protagonizado por Rafa Sieg.

A autobiografia, escrita em dois volumes, percorre a infância de Erico, a ruína financeira da família e a luta da mãe para manter o lar, até chegar aos anos 1950, quando o norte-americano Dave Jaffe pede em casamento Clarissa, filha do escritor.
120 anos de Erico Verissimo
A montagem apresentada no Livro Livre ganhou forma em 2024, quando Rafa procurou a atriz e produtora cultural Denise Copetti com uma provocação: e se a obra de Erico ganhasse vida no teatro?
“No ano passado, o Rafa me disse que estava lendo Solo de Clarineta e queria produzir algo, já pensando nos 120 anos de nascimento do Erico. Escrevemos um projeto e, meses depois, coincidiu da Secretaria de Cultura escolher o escritor como tema da Feira do Livro em 2025″, explica Denise.
Dirigido por Renato Farias, com produção da Companhia de Teatro Íntimo (RJ), o monólogo estreou em Santa Maria, justamente na 52ª edição da festa literária.

Talento reconhecido
Egresso da UFSM e radicado no Rio de Janeiro, Rafa Sieg ocupa o palco como quem ocupa uma casa antiga: com respeito e com cuidado, mas também com a liberdade de quem domina a cena. Ele empresta fôlego e calor às memórias do escritor, narradas no primeiro volume de Solo de Clarineta.

Aos 46 anos, a maturidade de Rafa surge diante da plateia: um intérprete que reconhece o peso do silêncio, o poder de um gesto contido, a beleza de um olhar que parece atravessar espelhos imaginários. Quem o viu como Solano, em Pantanal (Globo, 2022), entende por que seu nome ecoa entre os grandes atores da nova geração.
Alegria de estar em casa
No fim, com a voz embargada e o coração à mostra, Rafa agradeceu à Feira do Livro, ao Theatro Treze de Maio e à Santa Maria pela oportunidade de “dar um start” ao que, um dia, deverá ser um espetáculo completo.

“Eu buscava, há tempos, algo sobre o qual pudesse falar com o coração, com a vontade, com o sentir. Ser atravessado por Solo de Clarineta e por toda a obra do Erico tem sido oxigênio na minha vida. Agradeço à Feira do Livro pela oportunidade”, disse, visivelmente emocionado.
Nós, Santa Maria e a Feira do Livro, é que agradecemos, Rafa!
Texto: Ana Bittencourt (MTB 14.265)
Jornalista responsável: Liciane Brun (MTB 16.246)
Próxima atração do Livro Livre
03 DE SET | QUARTA-FEIRA
19h |VITOR RAMIL SOLO
Compositor, letrista, cantor e escritor brasileiro, Vitor Ramil é autor de doze álbuns. Autor de música e letra da maior parte de seu repertório, Vitor também musicou e gravou poemas de Jorge Luis Borges, João da Cunha Vargas, Angélica Freitas, Fernando Pessoa, Paulo Leminski, Joãozinho Gomes, António Bótto, Allen Ginsberg, Juca Ruivo, Arnaut Daniel e Emily Dickinson; compôs em parceria com Chico César, Jorge Drexler, Kleiton e Kledir, Zeca Baleiro e André Gomes, entre outros parceiros; e versionou cinco canções de Bob Dylan e uma de Xöel Lopez. Em outubro de 2024, Vitor Ramil lançou um novo álbum, inteiramente dedicado à poesia de Paulo Leminski. No momento, Vitor escreve o ensaio A estética do frio, com lançamento previsto para 2025.
A 52ª Feira do Livro de Santa Maria é uma realização da Prefeitura de Santa Maria, por meio das Secretarias de Cultura e de Educação, contamos também com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Inovação, em parceria com instituições fundamentais para o fortalecimento da cultura e da educação em nossa cidade: CESMA, Câmara do Livro, 8ª Coordenadoria Regional de Educação, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Universidade Franciscana (UFN) e Instituto Federal Farroupilha (IFFar).
A produção cultural fica com as produtoras Denise Copetti Produções e da Plano Comunicação e Eventos. O incentivo cultural é oferecido por empresas que acreditam e investem na cultura local: AR2Z Construções e Incorporações, Rede Vivo, Simplimed, Construtora Rubin, Unimed Santa Maria e Clínica Viver.
Apoio da Gráfica Pallotti, Ellas Art’Decor, Santino Artisan Gelato, BANRISUL, Ciryla Refrigerantes, SEDUFSM e APUSM.
O patrocínio, por sua vez, é fruto da confiança de grandes empresas da nossa região: CORSAN, Arroz Rei Arthur, Grupo Felice e Santa Lúcia Distribuidora. O financiamento vem por meio da Lei de Incentivo à Cultura (LIC) de Santa Maria e do Sistema Pró-Cultura – Governo do Estado do Rio Grande do Sul.