segunda-feira, novembro 4, 2024
Feira do Livro 2023TODAS EDIÇÕES

CLARISSA FERREIRA APRESENTA SEU GAUCHISMO LÍQUIDO NO LIVRO LIVRE

A noite de Livro Livre desta sexta-feira (5) contou com a presença de Clarissa Ferreira, violinista, etnomusicóloga, pesquisadora e compositora. Com muita música, o bate-papo foi mediado pela jornalista Vanessa Backes e pelo professor de filosofia Andrei Cerentini. Autora de  “Gauchismo Líquido: reflexões contemporâneas sobre a cultura do Rio Grande do Sul”, Clarissa falou de música e pesquisa, abordando a identidade cultural gaúcha.

 “A temática vem das minhas vivências como musicista, tocando no tradicionalismo, no movimento nativista, como violinista. Até então eu não compunha, passei a compor muito por causa do movimento das pesquisas, das reflexões e da vontade de ressignificar estes elementos simbólicos da música e das temáticas poéticas”, conta Clarissa.

A violinista destaca que sua pesquisa perpassa os marcadores sociais de gênero e raça, onde afirma que no Rio Grande do Sul houve um plano de eugenia,  embranquecimento e apagamento de culturas. 

“A gente percebe como os elementos que são elencados, quando se fala nessa construção de gauchismo, se referem muito aos descendentes de europeus, homens brancos. Onde se apaga muito das culturas, conhecimentos e saberes”,  explica. 

As escritas sobre a identidade gaúcha iniciaram ainda em 2014 com o blog “Gauchismo Líquido”, resultando posteriormente na tese de doutorado de Clarissa em 2018.

“Comecei, de forma inocente, a pesquisar a música gaúcha. Então fui ver que, desde da década de 70, existe uma produção muito grande no meio acadêmico desconstruindo alguns entendimentos hegemônicos, dessa ideia de tradição gaúcha”, recorda a pesquisadora.

A liquidez, conceito amplamente utilizado pelo sociólogo polonês, Zygmunt Bauman, dá nome às reflexões de Clarissa em seu blog e também no primeiro livro.

“Quem batizou foi uma amiga minha, Carol Ferreira. Eu já estava com a ideia de fazer um blog sobre essas temáticas. Eu estava bem focada na questão da identidade, que eu estava começando a pesquisar. Eu queria dar um nome que falasse do gauchismo do Rio Grande do Sul, mas com esse olhar da pós-modernidade, que foi um conceito que eu pesquisei bastante na minha dissertação. Ele [o nome] é metafórico por ser um conceito do Bauman e também traz uma imagem de um gauchismo que não é tão sólido, que não é uma verdade absoluta, de algo que pode ser fluido e repensado”, ressalta.

Clarissa também apresentou alguns de seus singles lançados e também músicas do álbum LaVaca. Com direito a bis, o público do Theatro Treze de Maio estava animado com a conversa e apresentação musical. O professor do departamento de arquivologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Chico Cougo, ressaltou a importância da vinda da pesquisadora, que, segundo ele, pode motivar as pessoas que estão na academia a pesquisarem esses temas.

“Eu achei muito interessante. O livro da Clarissa já é uma referência por tratar de assuntos que até então estavam cobertos e agora estão emergindo, tardiamente. Eu fico muito feliz que a Feira tenha trazido ela. Acho que esse debate tem que circular cada vez mais e tem que ser potencializado”, frisa Chico.

A necessidade de reposicionamento da tradição, dando atenção a questões negligenciadas, também foi apontada por Jesse Cruz, professor do curso de Dança – Licenciatura da UFSM. 

 “Foi extremamente importante o debate. Primeiro pela presença dela enquanto musicista, pesquisadora, mulher e atuante, tanto na academia, quanto no movimento popular. A presença dela por si só já se faz muito importante dentro da programação. Também toda articulação entre os espaços de tradições e de se pensar uma nova tradução dessas tradições. Até quando nós mantemos a tradição e em que momento nós traduzimos a tradição?”, questiona o professor.

No sábado (06), o Livro Livre segue com show de Ricardo Borges e Quarteto. Os ingressos gratuitos estão disponíveis para retirada na bilheteria do Theatro Treze de Maio.

Foto: Ronald Mendes

Texto: Nathália Arantes – acadêmica de jornalismo da UFN

Jornalista responsável: Letícia Sarturi (MTB 16.365) – BAH! Comunicação Criativa