Em noite de Treze lotado, Zeca Baleiro conversa sobre arte e canta sucessos
Nesta terça-feira (27) muita gente acordou com uma vontade danada de mandar flores ao delegado, bater na porta do vizinho e desejar bom dia, e beijar o português da padaria. Isso porque, sabia que a noite de Livro Livre da 51ª Feira do Livro de Santa Maria iria contar com um convidado para lá de especial: o compositor Zeca Baleiro.
Logo no início da tarde, o público santa-mariense já deu uma prévia da expectativa que estava pela presença do cantor maranhense no palco do Theatro Treze de Maio: em cerca de 15 minutos a bilheteria encontrava-se esgotada.
Com casa cheia, o bate-papo da noite foi conduzido pela jornalista Liciane Brun e contou com Baleiro cantando trabalhos mais recentes como “Ao Arrepio da Lei” e “Não Tenho Tempo”, sem abrir mão de seus clássicos como “Bandeira”, “Quase Nada” e “Telegrama”. Já na abertura de sua fala, Zeca explicou em que momento da vida houve o seu encontro com a literatura.
“A literatura está na origem da minha vida. Meus pais eram professores, meu pai sempre foi um leitor compulsivo e minha mãe mais amante da música. Eles nos empurravam para ler, às vezes colocavam os livros num objeto para a gente ler, mas foi bom. Todos lá em casa são leitores, somos seis filhos. Meu pai tem 101 anos e continua lendo”, comenta o artista, que também relembrou que há mais de 15 anos não voltava a Santa Maria.
Nostálgico, o compositor contou que preserva o prazer de ouvir discos no formato físico, ainda que a rapidez do mundo digital marque os dias atuais. O convidado do Livro Livre comentou que atualmente a audição de música é mais rápida e que ocorrem milhares de lançamentos por dia no país.
“Antes não era assim, você esperava ansiosamente o disco do Roberto Carlos que ia sair perto do natal, e ficava roendo as unhas para ir até a loja ouvir aquele disco de um outro artista que você gostasse. Era um disco por ano. Hoje se você quiser lançar um disco por mês você lança, mas vai passar despercebido”, reflete Zeca.
Antes de finalizar sua participação na 51ª Feira do Livro de Santa Maria, Zeca Baleiro leu o “Lobo Mau Triste”, de seu livro infantil “Casos curiosos de bichos falantes”, onde Zeca reconta fábulas clássicas e revisita contos de fada.
Arte, locais e projetos
Pouco antes de subir ao palco do Treze, Zeca atendeu a imprensa no seu camarim. O bate-papo abordou a relação do compositor com a palavra e projetos futuros.
“Tem um mistério que é difícil de explicar, sobre esse interesse pela palavra, seja como compositor ou como ‘escritor’, que eu coloco sempre entre aspas, porque considero que escrever é algo muito sério. Quando me chamam de escritor, fico meio constrangido, porque sou um quase escritor, um compositor que se arrisca a escrever. Para mim, a literatura é a mais séria, complexa e comprometida das artes”, revela Zeca.
Radicado em São Paulo há mais de 30 anos, o maranhense chegou na maior cidade da América Latina depois de uma viagem de 20 dias de carro. De lá pra cá, o compositor se reconhece na urbanidade paulistana, sem deixar de lado a própria origem.
“Gosto de cidades cosmopolitas, mas também aprecio o recanto, o sossego, o ‘lá de fora’, como vocês dizem aqui. São Paulo me atrai; me sinto vivo e ativo em uma cidade grande. Mas a gente nunca perde, né? Então, basta passar uma semana lá (no Maranhão) para eu recuperar rapidamente o sotaque. E há um jeito de viver que é diferente, né? Lá, o tempo parece melhor; às quatro horas da tarde, você já fez mil coisas e ainda tem um tempo imenso pela frente. Em São Paulo e em outras cidades grandes, o tempo é mais comprimido”, constata o compositor.
Multiartista, os projetos recentes de Zeca perpassam a música, literatura e audiovisual. Com um olhar no legado para as próximas gerações, o artista falou sobre seus novos projetos e interesses ainda a serem desenvolvidos.
“A gente está sempre querendo o novo, um lugar ainda que a gente não se arriscou. Eu sou uma pessoa inquieta, sempre fui, desde cedo. Eu fui me envolvendo com outras coisas, teatro, poesia, depois composição e fui criando essa carreira de uma forma bem errática. Por exemplo, cinema é uma arte que eu ainda tenho vontade de fazer alguma coisa, talvez uns documentários, tenho umas ideias e uns roteiros prontos. E é uma arte cara, então, talvez tenha que esperar um pouquinho”, diz o convidado.
Quanto ao talk show Evoé, que teve sua primeira temporada lançada no Youtube neste ano, Zeca revela que esse é um projeto para a vida toda e que pretende lançar uma temporada por ano.
“Já estou com planos de fazer uma segunda temporada com os nomes aqui na minha cachola. Ele é um projeto de memória, eu me preocupo muito com isso. Eu acho que é importante, ainda mais no tempo veloz como o que a gente está vivendo, das redes sociais, onde tudo é para já, para consumo imediato. A palavra da moda é viralizar, então tudo viraliza e tudo também se esquece no mesmo segundo seguinte. Acho importante a gente trabalhar com essa ideia da memória, da informação passada pelas pessoas mais velhas”, finaliza o artista.
Texto: Nathália Arantes
Jornalista responsável: Letícia Sarturi (MTB 16.365) – BAH! Comunicação Criativa
Fotos: Ronald Mendes