A literatura e a humanidade de Socorro Acioli marcaram presença no Livro Livre 

Na noite desta quinta-feira (29), o Livro Livre recebeu a escritora cearense Socorro Acioli em um bate-papo mediado pelo jornalista santa-mariense, Marcelo Canellas. No palco do Theatro Treze de Maio, a convidada da programação da 51ª Feira do Livro de Santa Maria falou da relação com a escrita, mercado editorial e os vínculos com mestres da literatura, como Gabriel García Márquez e Guimarães Rosa.

Canellas iniciou a condução do bate-papo apresentando o que ele chamou de ‘pontos de contato’ com a convidada, entre eles, fotos em que o jornalista aparece com os fragmentos de uma estátua de Santo Antônio no sertão do Ceará, no município de Caridade. A cabeça é a mesma que inspirou e foi enredo para o trabalho ficcional de Socorro, desenvolvido em oficina ministrada pelo escritor colombiano Gabriel García Márquez.

Também jornalista, a escritora conta que em dado momento da vida estava insatisfeita com a rotina da redação e a dinâmica da profissão, e isso foi o que a impulsionou a buscar o que ela realmente gostava: escrever ficção. Decidida a  estudar sobre como estruturar histórias, foi aprovada na oficina “Como contar um conto” com a narrativa que surpreendeu até o pai do Realismo Fantástico.

“Eu apresentei a história todinha e ele levantou, um silêncio (no local), daí ele disse: ‘Até que enfim uma boa história! Mas me diga, você comentou que uma parte da história é real e outra ficcional, o homem existe, a cabeça você inventou?’ (…) Ele só acreditou depois que viu (a gravação onde aparecia a cabeça)”, relembra Acioli.

Em primeira mão, Socorro contou ao público da Feira do Livro que irá se hospedar no apartamento onde um renomado escritor brasileiro viveu no Rio de Janeiro.

“Eu vou ficar de segunda a quarta-feira escrevendo isolada no apartamento onde Guimarães Rosa escreveu ‘O Grande Sertão: Veredas’ e os últimos livros, e onde ele também faleceu. Esse apartamento foi reformado e está disponível para aluguel por temporada. É um lugar que foi muito importante na vida dele, e quem gosta dele merece ficar lá também“, revela a escritora, empolgada.

Sobre o mercado editorial brasileiro, Socorro falou a respeito da importância dos clubes de leitura para a valorização da literatura nacional.

“As coisas mudaram muito. Atualmente, conseguimos ver na lista dos mais vendidos muitos autores brasileiros. Há algo que está acontecendo no Brasil nos últimos dez anos e que eu agradeço sempre: os clubes de leitura, especialmente o ‘Leia Mulheres’, e outros clubes que se organizaram durante a pandemia, têm desempenhado um papel fundamental na valorização dos autores brasileiros”, reconhece a cearense.

A convidada encerrou a sua participação no Livro Livre comentando sobre o alcance que “A Cabeça do Santo” tem tido e a importância da literatura diante das diversas realidades. Ela citou o diálogo que teve com um homem condenado por homicídio, em visita à uma casa penitenciária do Espírito Santo, após o livro ter sido leitura no programa de remição de pena. 

“A literatura para mim é o máximo da humanidade e da possibilidade de se sentir humano e de entender o outro humano. Então, se ele  conseguiu atravessar essa ponte tão longa na história da vida dele, para mim valeu tudo já”, finaliza Socorro.

Na sexta-feira (30), o Livro Livre recebe a 17ª edição do sarau da Sina Poética com autores e colaboradores da Rede Sina. A programação completa do Livro Livre pode ser conferida aqui.

 

Texto: Nathália Arantes

​​Jornalista responsável: Letícia Sarturi (MTB 16.365) – BAH! Comunicação Criativa

Fotos: Ronald Mendes