Djamila Ribeiro na 47ª Feira do Livro: “Em uma sociedade, não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”

Uma Feira do Livro para ficar na história começou na noite desta quinta-feira, dia 1º. Não teve praça lotada e nem cheiro de livros e de café, mas teve a emoção do inédito. A 47ª edição da Feira do Livro de Santa Maria teve a sua abertura em um formato inédito, por meio de uma live com base transmitida no Theatro Treze de Maio.

A primeira atração da Feira foi um bate-papo com a escritora, jornalista e filósofa Djamila Ribeiro. O impedimento de uma feira presencial não diminuiu a importância do bate-papo, que foi mediado pela jornalista Vanessa Backes e pelo professor de filosofia Andrei Cerentini.

Djamila Ribeiro - Foto: Ronald Mendes
Djamila Ribeiro – Foto: Ronald Mendes

Djamila falou sobre O Pequeno Manual Antirracista e sobre outras diversas lutas que são vivenciadas no dia a dia das pessoas negras, e que muitas vezes passam despercebidas na sociedade. A autora iniciou falando sobre sua experiência no mercado editorial como uma escritora negra. Comentou também sobre o entendimento do que é o racismo no Brasil.

– É racismo, em um país de maioria negra que é o Brasil, chegarmos em espaços de privilégios e ver que a maioria das pessoas que está lá são brancas. As pessoas não entendem que há um sistema que não confere oportunidades iguais, e que carregamos quase quatro séculos de opressão e de falta de políticas públicas  – comentou durante a conversa.

Perguntada sobre a diferença entre sua criação e a criação da sua filha, a autora comemorou pequenos avanços das gerações.

– Para minha filha, diferente da minha mãe e da minha avó, já há outro tratamento. Minha mãe alisava o meu cabelo, e minha filha nunca alisou o cabelo. Ela teve mais acesso a certas questões do que eu tive na idade dela. Ela já parte de outro lugar, eu precisei da vida adulta para desconstruir certas coisas – relembra.

Livro Livre Feira 2020 - Foto: Ronald Mendes
Livro Livre Feira 2020 – Foto: Ronald Mendes

Não teve praça ou theatro lotados, mas a interação a que se propõe o espaço do Livro Livre aconteceu de forma espontânea. Dezenas de espectadores que assistiram, de casa, ao bate-papo, puderam enviar suas perguntas e ouvir as respostas de Djamila, que falou diretamente para o público santa-mariense por meio da plataforma online.

A escritora, que já esteve em Santa Maria em um evento do curso de filosofia da UFSM, manifestou a vontade de retornar, presencialmente.

–  À época que fui à cidade o Centro Acadêmico era Djamila Ribeiro e fiquei feliz da vida em poder estar aí. Fico muito feliz de estar com vocês nesta edição da Feira do Livro e espero poder voltar, mesmo a Santa Maria. Parabéns a todos, especialmente por fazer uma feira neste período tão difícil para todos nós – finalizou.

Liciane Brun
Jornalista – MTB 16.246
Veleiro Conteúdo Criativo – Especial para a Feira do Livro

 

Fotos manchete/matéria: Ronald Mendes