QUANDO A LEITURA TRANSBORDA – AFONSO CRUZ PARTICIPA DO LIVRO LIVRE

A noite de terça-feira (09) contou com presença internacional no Livro Livre. O público que esteve presente no Theatro Treze de Maio pode conferir um bate-papo literário com o escritor português Afonso Cruz. O autor das obras  “Jesus Cristo bebia cerveja” (2014), “Flores“ (2016), “Vamos comprar um poeta” (2016), entre outros, falou por cerca de uma hora e meia durante a conversa mediada pela jornalista Vanessa Backes e pelo professor de filosofia Andrei Cerentini.

A plateia atenta compartilhou de momentos de reflexões trazidas pelo escritor multiartista, já que Afonso também é ilustrador, cineasta e músico. Leitor nato, falou sobre sua introdução ao mundo das publicações literárias.

“Nunca ambicionei ser um escritor, sempre fui leitor. E continuo sendo um leitor, sempre foi minha principal atividade. É da leitura que nasce a escrita. É meu combustível e eu sou incapaz de escrever sem ler. Às vezes passo dias sem escrever, mas todos os dias eu leio. E a escrita é uma consequência dessas leitura. Eu comparo a encher um copo d’água com conta-gotas, isso é a leitura. Quando transborda, é escrita. E às vezes acontece”, declara.

Ainda analisando a relação daquele que lê com os livros, Afonso aponta um estado de contemplação ao qual o leitor é remetido ao se deixar ser conduzido por uma obra.

“Nas conversas que tenho tido, tenho falado da leitura ideal para Roland Barthes, em que ele diz que o leitor levanta a cabeça. Quando levantamos a cabeça, significa que vimos algo de belo, alguma coisa para refletir. Interrompemos aquela leitura silenciosa e começamos a contemplar. A leitura é um exercício espiritual laico. Existe recolhimento e silêncio. Saímos da vida e entramos dentro do livro“, analisa o escritor.

Já em solo brasileiro, Afonso Cruz foi anunciado como vencedor da primeira edição do Prêmio Álvaro Magalhães. A premiação, dedicada à literatura ibérica, selecionou cinco finalistas, entre 95 obras portuguesas e espanholas. Durante o Livro Livre, o escritor comentou sobre a admiração que tem por Álvaro de Magalhães, também escritor português, que concede seu nome ao prêmio que valoriza e promove a literatura infanto-juvenil.

“É um escritor que admiro muito. É um escritor muito inteligente, que escreve livros para a infância que deslumbram nós adultos. Costumo dizer que livros para crianças, na verdade, são livros para adultos que não excluem as crianças. Crianças também podem ler”, aponta Afonso.

Questionado sobre o suposto papel político que os artistas devem imprimir em suas obras, o escritor explica que ele apresenta a história ao leitor e esse tirará suas conclusões.

“Eu não acho que os escritores devem ser engajados. Mas acho que é desperdício de uma ferramenta não ser. Eu, mais do que o cidadão comum, consigo chegar a mais pessoas”, esclarece.

Leitor e pesquisador da literatura lusófona, o professor de literatura da rede municipal, Ronan Simioni, destaca a importância do acesso à escritores que a Feira do Livro de Santa Maria vem promovendo.

“Super importante para que o ato de ler, o acesso, conhecer o autor, seja algo mais difundido. Não apenas para um público mais restrito, de nicho. Eu acho que a popularização mesmo, esse contato de escritor e leitor, isso a Feira traz. Eu vejo que é o grande diferencial da Feira, com músicos e outros artistas, de teatro também. A Feira não é só venda de livros. É esse contato com os artistas para o público que muitas vezes passa despercebido pelo centro da cidade e talvez iniciando uma história de longo prazo com a arte como todo”, conclui o professor. 

Na quarta-feira (10), o  Livro Livre segue com a participação de Pedro Lamares com ”A poesia é uma arma carregada de futuro. Os ingressos gratuitos estão disponíveis para retirada na bilheteria do Theatro Treze de Maio.

Fotos: Ronald Mendes

Texto: Nathália Arantes – acadêmica de jornalismo da UFN

Jornalista responsável: Letícia Sarturi (MTB 16.365) – BAH! Comunicação Criativa