“Eu prezo pela liberdade e isso acaba refletindo na minha poesia”, diz Allan Dias Castro no Livro Livre
“A gente só nasce inadequado
Para aquilo que não nasceu.
Um sonho não é uma pedra no sapato.
Se o seu está apertado, livre-se.
Ele não é seu”
Allan Dias Castro já se libertou dos sapatos apertados e decidiu viver o grande sonho de “colocar voz ao verbo”. Convidado para o Livro Livre desta segunda-feira, dia 05, o poeta iniciou a última semana dessa 47ª edição da Feira do Livro de Santa Maria com um bate-papo sobre poesia e escrita. A conversa contou com a mediação da jornalista Vanessa Backes e do professor de filosofia Andrei Cerentini.
Nascido numa família tradicional de advogados, Castro entrou no curso de Direito para não desapontar gerações. Sem conseguir ser feliz, ele resolveu trilhar os próprios passos, que resultaram numa caminhada marcada por muitos versos e projetos. Entre eles, “Voz ao Verbo – Poemas para calar o medo”, livro que reúne prosas e poesias.
O escritor falou sobre a sensação de estar deslocado dentro do “roteiro de vida” que haviam criado para ele. Ainda abordou a necessidade de parar de ir contra ao que não se quer e ir em direção ao que sempre quis.
– Era como se eu estivesse usando um sapato que não era meu para chegar onde a pessoa que me deu não chegou. Era um acúmulo de frustrações que me deixou incomodado. O incrível é que a gente acredita que isso é o normal, né?!
O livro tem origem no “Voz ao Verbo”, projeto de vídeos com poemas autorais com mais de 100 milhões de visualizações e que busca facilitar o acesso do público à poesia. O poeta trouxe relatos sobre a experiência no canal no Youtube e a necessidade de romper com as limitações pessoais que criava para desenvolver essa forma de conteúdo.
– Eu procuro sentimento no que escrevo, e tinha receio de dividir isso, até perceber que estava aí o meu grande alívio. Essa exposição me trouxe uma liberdade muito grande de poder ser quem eu sou.
A necessidade de dar vasão ao trabalho autoral, assim como de desmitificar a poesia, foram assuntos abordados durante o Livro Livre. A conversa seguiu sobre o processo produtivo e as inspirações do poeta.
– Para mim, inspiração é compromisso. O meu lance é mais isso, de profissionalismo, de sentar na cadeira e encarar como uma rotina. Se for parar para pensar, a gente precisa que as pessoas nos cobrem e depois reclama dessa cobrança. E se o que você faz fosse, de fato, aquilo que te estimula? – reflete.
Allan também conversou sobre a construção poética, com característica solta e livre de padrões. Neste contexto, argumentou sobre o desafio de parar de escrever para escritores para provar capacidades.
– Quando eu deixei de escrever para outros escritores e parei para me ouvir, dividir o que acredito, eu encontrei pessoas, públicos e inclusive escritores. (…) Eu prezo pela liberdade e isso acaba refletindo na minha poesia. Respeito muito as pessoas, de diferentes formas de expressão e encontrei a minha. Se sentir a necessidade de colocar numa métrica mais elaborada ou buscar rimas, eu vou fazer por não estar preso a isso.
O poeta ainda trouxe o sentimento por trás da música “Um Novo Domingo de Sol”, que compartilha a autoria com Rodrigo Allende e MC Jean Paul. A canção em homenagem aos familiares das vítimas do incêndio na Boate Kiss teve um clipe gravado por artistas do Estado, que foi transmitido no programa Fantástico, da Rede Globo.
– Talvez eu pudesse amenizar, o mínimo que fosse, aquela dor do familiar que passou por aquela situação tão grave aí em Santa Maria. (…) Foi uma satisfação ver que ela foi abraçada, acolhida e cumpriu o objetivo de amenizar aquele sentimento tão grande de tristeza e de injustiça.
Não pôde assistir o Livro Livre com Allan Dias Castro? O bate-papo está disponível no canal da Feira do Livro de Santa Maria no Youtube.
Também podem ser encontradas edições realizadas com: a filósofa Djamila Ribeiro, o psicólogo clínico Rossandro Klinjey e o jornalista Laurentino Gomes.
Texto: Jornalista Letícia Sarturi (MTb 16365), especial para a Feira do Livro.
Fotos manchete/matéria: Ronald Mendes