segunda-feira, outubro 14, 2024
Feira do Livro 2023TODAS EDIÇÕES

LIVRO LIVRE PROMOVE NOITE DE RECITAL COM PEDROS LAMARES

A noite de Livro Livre desta quarta-feira (10) foi marcada por um recital de poesia apresentado pelo ator português Pedro Lamares. Em clima intimista, o público do Theatro Treze de Maio conferiu a apresentação ‘A Poesia é Arma Carregada de Futuro’, onde o também escritor declamou poemas que versam grandes temas universais da poesia como o amor e a morte.

O espetáculo iniciou com a apresentação de ‘Um Poema’, de autoria de Miguel Torga, escritor, poeta e médico português. Na sequência, Pedro compartilhou com a plateia o que ele considera um ato irresponsável de seu padrasto quando o ator ainda tinha 12 anos: presentear-lhe com o livro “O Guardador de Rebanhos”, de Alberto Caeiro, um dos heterônimos do poeta português Fernando Pessoa. Lamares mostrou ao público uma peculiaridade de sua edição: a palavra Lagos escrita em letras garrafais numa página em branco. Era uma marca do passado do livro, que serviu para que seu padrasto pedisse carona para ir à Lagos, sul de Portugal. Foi aí que o ator percebeu que “talvez um livro de poemas também servisse para qualquer coisa”.

O ator destaca que foi educado em uma escola onde era ensinado a amar o colonialismo, numa perspectiva heróica do colonialismo desbravador de mares, onde o povo português descobriu terras e pessoas. Ele destaca que pessoas, povos e culturas não podem ser descobertos. Na sequência, apresentou o poema contemporâneo ‘Portugal’, de Jorge Sousa Braga, que trata essa visão colonialista de forma irônica.

“Nós aprendemos que nossa miscigenação foi bondosa. Nós não aprendemos que estupravam as mulheres. Aprendemos que misturávamos as raças. Que misturamos culturas, não que escravizamos pessoas para trazer ao Brasil em navios negreiros. Nós aprendemos a sermos saudosos disso. Quase toda a poesia que estudamos, até chegar à poesia contemporânea, que é no último ano do ensino médio, é uma poesia saudosa dos descobrimentos”, revela o ator antes de recitar ‘Portugal’.

Durante a apresentação, Lamares agradeceu a presença das intérpretes de Libras presentes no Livro Livre. O ator também falou sobre a necessidade de se estar atento às movimentações conservadoras e de censura que vêm assolando vários países do mundo, recitando na sequência a música Cálice de Chico Buarque de Holanda.

“A responsabilidade de estar atento, responsabilidade de falar sobre isso, de olhar de frente e usar, se tivermos e enquanto tivermos, os direitos. Acho que a arte, nisso, tem um papel fundamental. Eu não poderia deixar de fazer uma homenagem ao enorme Chico Buarque. Que recebeu, há duas semanas, no contexto do 25 de abril em Portugal, finalmente, o seu prêmio Camões”, alerta. 

No final de sua apresentação, Lamares agradeceu a organização da 50ª Feira do Livro de Santa Maria pela forma carinhosa pela qual foi recebido.

“É maravilhoso estar aqui. É muito emocionante atravessar o Atlântico e ser recebido desta forma. Eu já tinha passado algumas temporadas no Brasil, nunca tinha vindo ao Rio Grande do Sul. Devo dizer que o momento que nós tivemos aqui foi absolutamente inesquecível de um afeto, de um amor, de um carinho e de uma vontade de fazer bem e fazer acontecer”, agradece.

O formato de recital, não muito comum, atraiu o público para a noite de Livro Livre. É o caso de Creici Redin Brixner, designer e consultora criativa que esteve presente em todas as noites de Livro Livre desta semana.

“Me chamou a atenção por ser um recital, eu nunca assisti um profissionalmente, algo nesse nível. Meu pai escreve poesia, editei um livro dele no meu projeto de TCC e ele fala muito em desenvolver um projeto assim de recital. Vim também com essa intenção e fiquei extremamente emocionada. Incrível a sensibilidade e atuação dele. Fui anotando o que eu pude, quando ele falava de quem era, para eu ter as referências para buscar”, comenta a designer. 

Na quinta-feira (11), o  Livro Livre segue com o SARAU DXS ATREVIDXS. Os ingressos gratuitos estão disponíveis para retirada na bilheteria do Theatro Treze de Maio.

Foto: Ronald Mendes

Texto: Nathália Arantes – acadêmica de jornalismo da UFN

Jornalista responsável: Letícia Sarturi (MTB 16.365) – BAH! Comunicação Criativa