Noite dedicada ao Patrono Leonardo Brasiliense, discute sua relação com a literatura e os processos criativos

“Contar a própria história é difícil porque a vida pode ter vários começos. Lembro o primeiro dia de aula da primeira série, hora da chamada, a professora disse Leonardo, ninguém respondeu, ela repetiu Leonardo, aquele silêncio, daí ela leu o nome todo e me dei conta de que o Leonardo era eu, porque em casa até então só tinham me chamado de Junior, de Junico, de Nico.” Foi proferindo esse relato autobiográfico, retirado da obra ‘Corpos sem pressa’, que o professor Pedro Brum Santos iniciou a noite de Livro Livre dedicado a Leonardo Brasiliense, Patrono da 48ª Feira do Livro de Santa Maria.

O escritor Vitor Biasoli, Patrono da Feira do Livro de 2007, e que acompanhava o bate-papo no palco do Theatro Treze de Maio, relatou que acompanha de perto a carreira de Brasiliense, o conhecendo desde 1999. Admirador da escrita do homenageado, Biasoli avaliou: “Para a noite de hoje eu reli ‘Olhos de Morcegos’, que eu gosto muito e acho que é o ponto de virada de sua obra. A partir dali ele concretiza mais o seu universo ficcional”.

“A fina ironia que Leonardo utiliza constantemente no texto, onde ele brinca também até com alguns clichês, é uma qualidade fundamental para quem escreve” destaca Antonio Candido Ribeiro, escritor e convidado da noite.

O Patrono rememorou sua relação com a literatura, contando ao público que após se aventurar na música com uma guitarra, começou a escrever como forma de expressão. A primeira história, narrada em poucas páginas, não agradou Brasiliense, que achou insuficiente o que havia produzido. Foi em contato com um amigo que ele descobriu que aqueles pequenos textos, conhecidos por contos, podiam virar livros.

Questionado sobre a sua disciplina de escrita, contou que tudo partiu da decisão de se organizar para trabalhar e redigir suas narrativas. O horário da manhã, por volta de 5h30, se tornou o momento de produção literária. Tudo ocorreu pela insistência de sua gata, Maria Pestana, já falecida, que o acordava rotineiramente no amanhecer do dia para ser alimentada. Essa curiosidade sobre o início de seu hábito foi compartilhada pelo homenageado que percebeu no horário um momento de tranquilidade para redigir.

Sobre seu planejamento como literato, destacou que as coisas foram ocorrendo sem pretensão. “Acho difícil planejar arte. Técnica a gente estuda, aprende e pratica”, afirma. As fases de seu processo criativo foram pontuadas: primeiro a inspiração, depois a pesquisa, o projeto de fazer os episódios e finalmente a escrita.

Escritor cuidadoso, Brasiliense seguiu falando acerca de seu estágio de pesquisa, acrescentando que a produção envolve cerca de seis pessoas que acompanham a criação e sugerem correções. “Mesmo a ficção de fantasia precisa ter uma coesão de verossimilhança. Se não, o leitor que conhece o universo e vê alguma bobagem, acaba desacreditando de todo o texto”, conclui.

O mercado editorial foi o tema final da noite de Livro Livre, quando Leonardo falou sobre como funcionam os caminhos para publicação. “Hoje as grandes editoras não lidam mais com escritores, apenas com agentes. Os concursos e agentes literários são as portas de entrada para publicar”, conclui.

A Feira do Livro ocorre até 16 de outubro, com programação híbrida na Praça Saldanha Marinho, no Theatro Treze de Maio e nas redes sociais da Feira. Na noite de 8 de outubro o Livro Livre terá a presença virtual de Ailton Krenak. O público poderá acompanhar o diálogo pela transmissão nas redes sociais da Feira do Livro de Santa Maria.

 

Texto: Nathália Arantes – acadêmica de jornalismo da UFN

Jornalista responsável: Liciane Brun – MTB 16.246