LIVRO LIVRE SE DESPEDE DA FEIRA COM PARTICIPAÇÃO DE NATALIA BORGES POLESSO
A última noite de Livro Livre da 50ª Feira do Livro de Santa Maria contou com a presença da escritora Natalia Borges Polesso. A conversa com a autora de “Controle” (2019), “Corpos Secos” (2020), “A extinção das abelhas”(2021) e “Formiguinhas” (2022), foi mediada pela jornalista Vanessa Backes e pelo professor de filosofia Andrei Cerentini.
Logo no início do bate-papo, Natalia falou sobre a construção da obra “A extinção das abelhas”, livro que começou a ser tramado ainda em 2013 e, que, em 2016, começou a se aproximar do formato que os leitores conhecem. O hiato entre esses três anos fizeram a autora se perguntar a respeito do fim do mundo diante do que ela observava como um balanço da sociedade quanto aos temas políticos, sociais e culturais. Foi então que ela começou a coletar notícias sobre morte de abelhas, ecologia, uso de agrotóxicos e inseticidas liberados pelo governo, surgindo após essa pesquisa ideia do colapso, ideia central do livro.
“Curiosamente eu entreguei esse livro duas semanas antes da pandemia começar. Aí a pandemia veio e o livro ficou parado. Eu classifico esse livro como realismo-especulativo. Ele é uma realidade muito possível. Eu queria especular essa ideia de colapso que vem acontecendo. A hora em que a pandemia veio e o livro ficou parado na editora, eu pedi para a minha editora devolver o livro porque eu precisava fazer inserções pontuais para colocar a pandemia no livro. Ele [o livro] estava tão colado à realidade que eu sinto que se eu não levar em consideração o que está acontecendo, eu perco e o livro perde”, confessa.
Natalia também falou ao público sobre o seu processo de criação, expondo que enquanto a escrita flui ela acaba também por se surpreender com os destinos traçados pelas personagens.
“Acredito que há um espaço de mistério e é nessas horas que se é surpreendido pelo o que está se escrevendo. Tem momentos que a gente se vê tão envolvido com as personagens, parece um clichê dizer isso, que as personagens vão ganhando vida e vão fazendo o que querem, mas é verdade. Eu planejo, enquanto estou escrevendo, onde quero chegar, como eu quero fazer. Mas esse planejamento não está escrito em pedra. Eu posso rasgar e mudar”, explica a escritora.
A escritora, que já teve sua obra vencendo prêmios literários como o Açorianos de Literatura e o Jabuti, falou sobre a soma de elementos durante a construção de personagens.
“Eu gasto muito tempo pensando nas personagens. Eu construo elas com muita coisa ao redor e nem sempre isso vai aparecer descrito no livro. Mas eu tenho certeza que quando eu coloco algum elemento ali, esse elemento vai parecer bem construído justamente porque eu pensei em diversas outras coisas”, complementa.
Questionada sobre sua literatura ser classificada como LGBTQIA+, ela explica que, apesar de querer que suas histórias estejam inseridas num contexto de literatura que não seja temática, ela precisa fazer isso como afirmação.
“O problema não está na classificação, o problema está como veem essa classificação. Eu acho que esse é um problema social. Essas questões me levam para outras coisas. Essa classificação também muda com o tempo. Dizer que a minha obra é LGBTQIA+, ou que isso seja um atravessamento super importante, não é um problema para mim. Sim, eu vou sempre escrever com esses personagens, essas questões sempre vão atravessar a minha prosa, vão atravessar minhas questões”, destaca.
Após a conversa no Livro Livre, Natalia atendeu o público que a esperava para autógrafos, fotos ou uma breve troca literária.
“Como sempre foi maravilhoso. Não é a primeira vez que conversamos com ela. Ela participou de um dos nossos encontros do clube de leitura Athenados. A participação dela foi depois do lançamento ‘A extinção das abelhas’, inclusive fui eu quem indicou o livro para o clube. E ela é incrível. A fala dela parece que desliza pela boca”, declara Daniela Barbosa da Fontoura, professora de português e literatura.
A autora também recebeu a equipe da Feira do Livro de Santa Maria e falou sobre a cultura e importância dos clubes de leitura.
“Eu adoro um clube de leitura. Acho que é uma experiência diferente. Para mim, essa ideia de clube de leitura, de poder ter essa conversa sobre o livro, é sempre enriquecedora. E isso, para a gente que tá vivo e escrevendo, sempre volta de alguma forma. Ou a gente é convidado, ou as pessoas vem dizer que leram no clube. Como leitora, eu gosto de clubes. Como escritora, também é ótimo, porque sempre volta para mim alguma coisa”, explica.
Questionada sobre “Formiguinhas”, seu primeiro livro infantil que surge de um dos textos de seu primeiro livro de contos, Natalia fala sobre a experiência de escrever para crianças.
“Eu gosto de ler livros que são ditos para o público infantil. É um desafio, você tem que pensar a linguagem para outro tipo de público mas também é uma dinâmica de escrita que te leva para outros lugares. Para mim é recompensante”, conclui Natalia.
O Livro Livre se despede da 50ª edição da Feira do Livro de Santa Maria. Foram 14 dias onde as atrações culturais perpassaram diferentes formatos artísticos no palco do Theatro Treze de Maio e do Colégio Marista Santa Maria. Muito obrigada aos que compareceram e fizeram do espaço dos livros ainda mais livre.
Fotos: Ronald Mendes
Texto: Nathália Arantes – acadêmica de jornalismo da UFN
Jornalista responsável: Letícia Sarturi (MTB 16.365) – BAH! Comunicação Criativa